15 de jun. de 2012


A Banalização da Música Gospel

Por Sergio Ricardo Almeida

Ah que saudades do tempo em que eu ouvia meu pai cantar louvores de Paulo Moreira, Oséias de Paula, Feliciano Amaral, entre tantos outros que verdadeiramente louvavam ao Senhor com suas canções de exaltação ao nosso Deus criador.
Era um louvor puro, sem segundas intenções, sem marketing, sem visar lucro algum. Aliás todos esses cantores eram bem conhecidos, mas apenas entre as congregações evangélicas. Fora das igrejas, ninguém nunca ouvira falar deles. Isso porque toda a estrutura marketeira e comercial, que hoje anda por trás de cada cd gospel que é lançado, simplesmente não existia. Toda a “propaganda” naquela época era feita entre os próprios crentes e, detalhe, primeiro se conhecia a canção e depois se fazia a pergunta: “que louvor bonito, quem é que canta?”
Esses cantores não eram de maneira alguma tidos como artistas gospel, não tinham shows de lançamentos para promover seus discos (LPs naquela época), nem atraíam multidões a suas apresentações. Eles cantavam sim, mas nas igrejas, sem cobrar um centavo para cantar louvores a Deus, e nas vitrolas dos crentes que compravam seus LPs.
O verdadeiro propósito da canção de louvor é ignorado hoje em dia. Não poucas vezes se houve coisas do tipo “Não perca o ‘show’ de lançamento do novo CD do cantor tal”, onde a preocupação maior é promover o artista gospel e não o louvor, que é para Deus.
O vocábulo ‘louvor’, segundo o dicionário significa principalmente: enaltecer, elogiar, honrar, glorificar. E é isso que as canções de louvor deveriam fazer: enaltecer, elogiar, honrar e glorificar o nome do Senhor. Ao invés disso, através delas, se clama por prosperidade, vitória profissional, financeira, cura de doenças, milagres, etc.
E é aí que mora o perigo, pois enquanto se vê milhares de pessoas gastando seus reais com CDs, DVDs e shows de “gospel stars” os tubarões da indústria da fé vão cada vez mais engordando suas contas-correntes e aumentando seus patrimônios com propriedades luxuosas espalhadas pelos “Caribes” do mundo.
Com o crescente aumento das igrejas neo-pentecostais pelo Brasil e pelo mundo, pregando a teologia da prosperidade e a independência financeira, a indústria dos produtos gospel investem pesado em peças publicitárias para promoverem seus produtos, principalmente a música gospel.
Consequentemente, também podemos perceber um aumento notável na quantidade de rádios evangélicas, nas quais, entre uma música de louvor e outra, todo o marketing que envolve a promoção e o comércio de peças evangélicas é lançado aos ouvidos incautos daqueles crentes que buscam nas músicas gospel a chave para a aquisição de bênçãos pessoais que na maioria das vezes, para eles, se traduzem em aquisição de bens patrimoniais e cura de doenças físicas.
O poder exercido pelos barões oportunistas da fé tem sido tão grande na popularização do gospel que até aqueles que não são crentes tem sido atingidos pela intensa propaganda que envolve a venda de CDs, DVDs e shows evangélicos. Não raro, nos deparamos com pessoas não-evangélicas cantarolando suas vitórias e suas prosperidades nos falsos louvores lançados a cada semana no mercado gospel.
E assim vemos a canção evangélica sendo banalizada nos tocadores de CDs dos automóveis, das residências, nas rádios FMs e até mesmo em programas de televisão seculares de grande penetração nos lares brasileiros. 

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