A Banalização da Música Gospel
Por Sergio Ricardo Almeida
Ah que saudades do tempo em que eu ouvia meu pai cantar
louvores de Paulo Moreira, Oséias de Paula, Feliciano Amaral, entre tantos
outros que verdadeiramente louvavam ao Senhor com suas canções de exaltação ao
nosso Deus criador.
Era um louvor puro, sem segundas intenções, sem marketing,
sem visar lucro algum. Aliás todos esses cantores eram bem conhecidos, mas
apenas entre as congregações evangélicas. Fora das igrejas, ninguém nunca
ouvira falar deles. Isso porque toda a estrutura marketeira e comercial, que
hoje anda por trás de cada cd gospel que é lançado, simplesmente não existia.
Toda a “propaganda” naquela época era feita entre os próprios crentes e,
detalhe, primeiro se conhecia a canção e depois se fazia a pergunta: “que
louvor bonito, quem é que canta?”
Esses cantores não eram de maneira alguma tidos como
artistas gospel, não tinham shows de lançamentos para promover seus discos (LPs
naquela época), nem atraíam multidões a suas apresentações. Eles cantavam sim,
mas nas igrejas, sem cobrar um centavo para cantar louvores a Deus, e nas
vitrolas dos crentes que compravam seus LPs.
O verdadeiro propósito da canção de louvor é ignorado hoje em dia. Não poucas vezes se
houve coisas do tipo “Não perca o ‘show’ de lançamento do novo CD do cantor
tal”, onde a preocupação maior é promover o artista gospel e não o louvor, que
é para Deus.
O vocábulo ‘louvor’, segundo o dicionário significa
principalmente: enaltecer, elogiar, honrar, glorificar. E é isso que as canções
de louvor deveriam fazer: enaltecer, elogiar, honrar e glorificar o nome do
Senhor. Ao invés disso, através delas, se clama por prosperidade, vitória
profissional, financeira, cura de doenças, milagres, etc.
E é aí que mora o perigo, pois enquanto se vê milhares de
pessoas gastando seus reais com CDs, DVDs e shows de “gospel stars” os tubarões
da indústria da fé vão cada vez mais engordando suas contas-correntes e
aumentando seus patrimônios com propriedades luxuosas espalhadas pelos “Caribes”
do mundo.
Com o crescente aumento das igrejas neo-pentecostais pelo
Brasil e pelo mundo, pregando a teologia da prosperidade e a independência
financeira, a indústria dos produtos gospel investem pesado em peças
publicitárias para promoverem seus produtos, principalmente a música gospel.
Consequentemente, também podemos perceber um aumento notável
na quantidade de rádios evangélicas, nas quais, entre uma música de louvor e
outra, todo o marketing que envolve a promoção e o comércio de peças
evangélicas é lançado aos ouvidos incautos daqueles crentes que buscam nas
músicas gospel a chave para a aquisição de bênçãos pessoais que na maioria das
vezes, para eles, se traduzem em aquisição de bens patrimoniais e cura de
doenças físicas.
O poder exercido pelos barões oportunistas da fé tem sido
tão grande na popularização do gospel que até aqueles que não são crentes tem
sido atingidos pela intensa propaganda que envolve a venda de CDs, DVDs e shows
evangélicos. Não raro, nos deparamos com pessoas não-evangélicas cantarolando
suas vitórias e suas prosperidades nos falsos louvores lançados a cada semana
no mercado gospel.
E assim vemos a canção evangélica sendo banalizada nos
tocadores de CDs dos automóveis, das residências, nas rádios FMs e até mesmo em
programas de televisão seculares de grande penetração nos lares brasileiros.
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